A 'Stazione Milano Centrale' além de ser uma das estações mais charmosas da Europa e do mundo, é considerada um dos símbolos da cidade de Milão. Denominada por vezes como a catedral do movimento, devido ao grande fluxo de viajantes que diariamente passam por ela rumo aos mais variados destinos. É natural que numa estação o objetivo principal não seja aquele de observar, e por isto nesta postagem busco desmistificar a estação central de Milão apenas como local de passagem, destituí–la do 'não lugar' ao qual está fadada, instigando assim aos viajantes que me lerem ao visitá-la olharem o seu entorno. Aqui dou passagem ao que me move: a arte. Sendo assim abordarei um pouco da história desta, atentando não apenas ao projeto do arquiteto Ulisse Stacchini(1871 – 1947), mas também aos seus mosaicos, suas esculturas e aos segredos que esta guarda.
Um pouco da História
A estação central de Milão que conhecemos hoje foi inaugurada em 1931 em substituição a antiga estação que ficava onde hoje é a Praça da República e que havia se tornado insuficiente devido a grande demanda de tráfego ferroviário da cidade.
O local onde hoje encontra-se a estação central de Milão no passado era usado como campo de futebol e para corridas de cavalos. Era de propriedade da 'squadra rossonera' , o Milan. Não era um estádio, mas um simples campo, ao que entendi quase um campo em que os milaneses jogavam as suas peladas.
Em 1906 o Rei Vittorio Emanuele III, durante a exposição universal que ocorria na cidade, colocou a pedra fundamental no local onde seria a estação que chega aos nossos dias, e abriu o primeiro concurso para o projeto da estação. Concurso que não alcançou as expectativas e desta forma em 1912 foi aberto um novo concurso. Desta vez o concurso requeria aos participantes que a estação milanesa fosse inspirada nas estações das cidades alemãs Lipsia e Stutgart.
Foi quando o projeto do arquiteto florentino
Ulisse Stacchini
venceu outros 46 projetos. Ainda assim, muitas foram as instâncias que seu projeto teria que passar . Sofreu uma infinidade de modificações em prol das necessidades pensadas para o desenvolvimento da cidade. Como por exemplo a parte onde hoje encontra-se a Galeria comercial da estação, que inicialmente seria destinada a um luxuoso hotel. Iniciaram-se as obras preliminares da grande construção que foram interrompidas logo após devido ao início da Primeira grande guerra. Apenas em 1925 forma reiniciadas as obras da estação e em 1° de julho de 1931 foi inaugurada.
A Estação
A estação se estende em dois níveis, denominados pelo próprio arquiteto como 'Galeria delle carrozze', onde hoje param os táxis, mesmo nível em que encontram– se as bilheterias, que leva ao andar superior denominada Galleria di Testa, que conduz as plataformas (binari). Esta tem 215 m de comprimento e mais de 25 m de altura. Com nove arcos que permitem deixar entrar a luz projetada para iluminar os mármores das paredes e os mosaicos do piso.
Com uma arquitetura definida como de transição já que reúne características que vão do Liberty ao racionalismo Fascista, do ecletismo a Art Decó.
Estação central e suas Obras de Arte
As Esculturas da fachada
Por mais distraído que seja
o viajante é muito difícil que não atente aos cavalos alados no alto do edifício da Estação. No entanto apenas observando–os não se pode mensurar os 8 m que possuem (da cabeça a cola).
As esculturas em questão são de autoria de Armando Violi (1883– 1934) e só foram afixadas no alto do prédio da estação no ano seguinte da inauguração, simbolizam o progresso guiado pela vontade e inteligência.
Os Mosaicos
Muitos são os mosaicos ao longo da estação, do piso quase ao teto. Cada um faz reverência a algo. O chão que mais de 320 mil pessoas pisam diariamente é uma verdadeira Galeria.
Inicio pelo caduceu de Mercúrio numa homenagem ao Deus do comércio e protetor dos viajantes.
Logo acima destacam–se os painéis referentes as paisagens de importantes cidades italianas, como o destacado acima, que traz a vista da cidade de Milão. Todos possuem molduras em mármore e são de autoria de
Basilio Cascella
Basilio Cascella
( 1860 – 1950).
Em outros mosaicos está presente a sigla FERT que tem muitas interpretações, entre estas significa
(Fortitudo Eius Rhodum Tenuit)
' a sua força preservou Rhodes' ,
uma alusão a Amadeo III, Conde de Savoia
e o ataque aos saracenos,
empreendido na Ilha de Rhodes.
(Fortitudo Eius Rhodum Tenuit)
' a sua força preservou Rhodes' ,
uma alusão a Amadeo III, Conde de Savoia
e o ataque aos saracenos,
empreendido na Ilha de Rhodes.
O mosaico de Michele Cascella, filho de Basilio, na Plataforma 21, narra o encontro de Mussolini com Vittorio Emanuele III, e a caída do regime.
Além destes mosaicos há aqueles em Art Decó provenientes da Ditta Padoan de Veneza e que podem ser vistos por quem usa a entrada principal de acesso as plataformas, a parte onde estão as bilheterias.
Um deles traz a representação da descoberta do fogo, outro o de uma família primitiva desesperada, do outro lado um de uma família dos anos 40 (representando o passado e o futuro em contraposição– sim, naquele temo os anos 40 eram o futuro). Os meios de comunicação e transporte por sua vez são representados em outros mosaicos. E estes também merecem um post especial no futuro.
Os detalhes decorativos
No que diz respeito aos infinitos detalhes decorativos da estação(como os que se vem na foto do mosaico de Basilio Cascella) a grande maioria são de Giovanni Chini ( 1871 – 1943 )tido como inventor da 'pietra artificiale' , que aparenta ser esculpida em pedra mas na verdade é cimento moldado. Estão por todos os lados.
Espaços históricos
Como importantes espaços voltados a memória histórica da estação há o pavilhão Real e o Memorial Shoah ( Também conhecido como Binario 21– Plataforma 21).
Pavilhão Real
Em italiano Padiglione reale, foi construído pelo próprio Ulisse Stacchini para acolher a família Savoia. Dividido em duas salas, a Sala das armas e a Sala Real, que se estendem por dois andares. A Sala das armas (Sala delle Armi) tem baixo relevo, do escultor Ambrogio Bolgiani ( – ), que representam as forças armadas( Exército, Marinha, Aeronáutica e Cavalaria). Tem uma escada que leva até o andar superior com uma escultura de Leão, além de paredes revestidas em pedras
A Sala Real está no mesmo andar das plataformas (piano binari) e nela há além das paredes de mármore e dos móveis no estilo imperial, lustres, mosaicos, uma escultura, uma fonte, um elevador antigo e uma passagem secreta. Uma escada que leva direto ao 'Binario 21'.
Memorial Shoah
O Memorial Shoah, foi aberto em 2013, fica dentro da estação, abaixo do local onde está a Plataforma 21. Faz uma referência aos judeus que eram transportados da estação direto aos campos de concentração, entre estes Auschwitz. Pode e deve ser visitado. No próximo Post me dedicarei a contar um pouco sobre este misterioso e histórico local.
Curiosidades e dicas da Lu
Este post ficou maior que a estação central de Milão, motivo pela qual dedicarei o Post do próximo domingo aos serviços que o viajante necessita, como banheiro, maleiro, restaurante, bilheteria etc.
E um pouco da história desta foto de guerrilheira e do meu bate papo com outros viajantes nesta charmosa estação.
Vale lembrar que a estação que tem emoldurado uma infinidade de viajantes deste e de outros tempos, hoje é considerada a segunda estação da Itália em fluxo de passageiros, ficando atrás apenas da
Estação Termini de Roma.
Esta postagem busca atentar para o olhar, para que passemos com olhos atentos e possamos em nossa viagem dedicar um tempo a desvendá–la antes de pegar o trem ou o metrô. Assim como degustamos algo na estação para matar a fome, que tenhamos o hábito de degustar a arte que nos rodeia.
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Se você tem mais dicas de lugares da
Estação Central de Milão
que eu não citei aqui, me envie um e-mail
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STAZIONE CENTRALE DI MILANO
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Viajando pela Itália!
com arte!
Ah, lembrando que eu faço postagens
domingos e quintas
mas quase todo dia tem post em todas as redes sociais.
Abbraccio forte
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Referências Prinicipais
Se é novo por aqui, não deixe de acessar as demais postagens sobre Milão, aqui no Blog.
Sobre o Pavilhão Real
Veja o Flickr de Luigi Matteoni a foto que inclui sobre o pavilhão é dele e muitas das informações que apresento aqui també provém de lá.
https://www.flickr.com/photos/luigi-matteoni/25277031093
Sobre os mosaicos
http://www.ventenniooggi.it/milano-fasci-littori--tracce-del-venten?lightbox=image_jzd
Sobre a estação
https://www.vivereamilano.com/vivere-a-milano/segreti-milano-la-stazione-centrale/
https://it.wikipedia.org/wiki/Stazione_di_Milano_Centrale
https://www.manageritalia.it/it/attualita/la-cattedrale-del-movimento-la-stazione-centrale-di-milano
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